RECIFE - A cidade de Recife viveu uma quinta-feira de boatos: com a elevação do nível do rio Capibaribe e áreas ribeirinhas submersas - com casebres com água até o telhado - a cidade entrou em pânico, motivado por informações de que a capital pernambucana seria inundada pelo transbordamento de barragens da região metropolitana. Empresas, escolas, repartições públicas terminaram liberando seus funcionários mais cedo e o trânsito ficou caótico. Percursos normalmente feitos em 20 minutos, demoraram quase duas horas para serem percorridos.
A Prefeitura divulgou uma nota informando que "não orientou o fechamento de qualquer estabelecimento comercial, escola ou unidade de saúde devido à elevação do nível do Capibaribe". O Governador Eduardo Campos (PSB) reuniu a imprensa no Palácio do Campo das Princesas para desmentir os boatos e afirmar que a situação estava "sob controle" e não havia motivo para pânico. Ele chegou a citar o exemplo do filho, que nesta quinta foi normalmente à escola, no bairro da Várzea, vizinho ao rio que corta o Recife, depois de percorrer 42 municípios pernambucanos.
- Se a situação fosse de risco, como pai, não teria deixado meu filho ir à escola. É preciso acabar com essa boataria, a possibilidade de enchente em Recife não procede - disse Campos, que esclareceu que o aumento de volume no leito do rio devia-se à coincidência da maré alta, ao excesso de chuvas nas cabeceiras, mas sobretudo à abertura das comportas da barragem do Carpina. A barragem integra o sistema de contenção de enchentes do Capibaribe, que é formado por três outras barragens: Tapacurá, Jucazinho e Goitá, que nesta quinta operavam no limite. Os três reservatórios estavam com volume de água superior a 100% da capacidade.
- A única que ainda não verteu foi a do Carpina, que está com 60% de sua capacidade, mas o ideal é que esteja com a metade. Por esse motivo, decidimos abrir suas comportas, para ir liberando lentamente o excesso de água. São 350 metros cúbicos por segundo - afirmou o Secretário de Recursos Hídricos, João
Bosco de Almeida.
De acordo com o Secretário, a iniciativa foi tomada para que o sistema opere com segurança, no caso de novas chuvas. Com a liberação, o volume do rio Capibaribe subiu muito, obrigando os moradores a deixarem suas casas. Pela manhã, o clima era de apreensão no bairro de Apipucos, na zona norte da capital.
- Se isso não é enchente, é o quê? Moro aqui há 31 anos e nunca vi tanta água. Na enchente anterior, a gente foi avisado, saiu de casa. Mas hoje está sendo uma surpresa, e o pior é que não aparece ninguém para ajudar. O que ajuda é o projeto solidário que os moradores fizeram, com quatro canoas para transportar os móveis dos vizinhos - afirmava Pedro Luiz Soares, o Mestre Peu, muito popular no bairro.
- Se não fosse o nosso projeto solidário, já tinha morrido gente afogada aqui. Teve morador que saiu de casa nadando - dizia ele, que desde as cinco da manhã, colocou as canoas no rio para transportar os vizinhos.
Morador do local há 18 anos, o pedreiro Severino Vicente da Silva, 28, conseguiu salvar a geladeira, a televisão, o colchão, e algumas roupas.
- Mas perdi o guarda-roupa e uma estante. Saí de casa com água na cintura - disse.
Mãe de dois filhos gêmeos de quatro anos, Alaíde Maria Bezerra da Silva Santos, de 40 anos, só teve tempo de pegar os documentos.
- Na quarta-feira à noite passou o pessoal da Comissão de Defesa Civil do Recife (Codecir) avisando que a gente devia sair. Mas nunca pensei que a água chegasse nesse ponto. Não acreditei que chegasse em minha casa. Estou desesperada, só salvei os documentos - contava, chorando.
Jeane Maria da Silva, 41, foi a primeira a alertar os vizinhos. Ela acordou por volta de três da manhã para ir ao banheiro e se deparou com água na altura do joelho:
- Foi tão ligeiro, que quando saí já tinha água na cintura. A sorte foi que meu marido tem uma canoa, botou as coisas dentro do barco e salvou a gente e alguns pertences - relatou.
Célia Maria do Nascimento, 42, relutou em sair de casa, mas no início da tarde teve que deixar o imóvel com netos e filhos:
- O rio vem cheio de bicho, já matei escorpião e três cobras - dizia.
O aumento do volume do rio terminou por alagar outras regiões da cidade, inclusive no bairro da Várzea, onde estudava o filho do governador.
- Não há motivo para pânico, mas as casas que foram construídas na calha do rio, essas serão invadidas mesmo, com água até o telhado. Mas as populações dessas áreas foram devidamente avisadas - afirmava o Secretário.
No bairro de Casa Forte, no entanto, houve áreas onde o comércio fechou as portas. Foi o caso do Shopping Plaza Casa Forte, que teve o principal acesso inundado, o que obrigou o centro comercial a suspender o atendimento no final da tarde. O Shopping é o principal centro de compras da zona norte. A Codecir distribuiu uma nota informando que a situação "se encaminha para a normalidade" ao contrário "da onda de boatos nas redes sociais", que também foram contaminadas pelo clima de insegurança na cidade.
Em Recife, a última grande enchente ocorreu em 1975, quando mais de 80% da capital foi atingida pela inundação do rio Capibaribe, o que levou o governo federal na época a implantar o sistema de contenção de enchentes, que já livrou a cidade de outras tragédias equivalentes. Recife está praticamente no mesmo nível do mar e foi erguida sobre aterros no rio Capibaribe, que transbordava quando chovia em suas cabeceiras.
A Prefeitura divulgou uma nota informando que "não orientou o fechamento de qualquer estabelecimento comercial, escola ou unidade de saúde devido à elevação do nível do Capibaribe". O Governador Eduardo Campos (PSB) reuniu a imprensa no Palácio do Campo das Princesas para desmentir os boatos e afirmar que a situação estava "sob controle" e não havia motivo para pânico. Ele chegou a citar o exemplo do filho, que nesta quinta foi normalmente à escola, no bairro da Várzea, vizinho ao rio que corta o Recife, depois de percorrer 42 municípios pernambucanos.
- Se a situação fosse de risco, como pai, não teria deixado meu filho ir à escola. É preciso acabar com essa boataria, a possibilidade de enchente em Recife não procede - disse Campos, que esclareceu que o aumento de volume no leito do rio devia-se à coincidência da maré alta, ao excesso de chuvas nas cabeceiras, mas sobretudo à abertura das comportas da barragem do Carpina. A barragem integra o sistema de contenção de enchentes do Capibaribe, que é formado por três outras barragens: Tapacurá, Jucazinho e Goitá, que nesta quinta operavam no limite. Os três reservatórios estavam com volume de água superior a 100% da capacidade.
- A única que ainda não verteu foi a do Carpina, que está com 60% de sua capacidade, mas o ideal é que esteja com a metade. Por esse motivo, decidimos abrir suas comportas, para ir liberando lentamente o excesso de água. São 350 metros cúbicos por segundo - afirmou o Secretário de Recursos Hídricos, João
Bosco de Almeida.
De acordo com o Secretário, a iniciativa foi tomada para que o sistema opere com segurança, no caso de novas chuvas. Com a liberação, o volume do rio Capibaribe subiu muito, obrigando os moradores a deixarem suas casas. Pela manhã, o clima era de apreensão no bairro de Apipucos, na zona norte da capital.
- Se isso não é enchente, é o quê? Moro aqui há 31 anos e nunca vi tanta água. Na enchente anterior, a gente foi avisado, saiu de casa. Mas hoje está sendo uma surpresa, e o pior é que não aparece ninguém para ajudar. O que ajuda é o projeto solidário que os moradores fizeram, com quatro canoas para transportar os móveis dos vizinhos - afirmava Pedro Luiz Soares, o Mestre Peu, muito popular no bairro.
- Se não fosse o nosso projeto solidário, já tinha morrido gente afogada aqui. Teve morador que saiu de casa nadando - dizia ele, que desde as cinco da manhã, colocou as canoas no rio para transportar os vizinhos.
Morador do local há 18 anos, o pedreiro Severino Vicente da Silva, 28, conseguiu salvar a geladeira, a televisão, o colchão, e algumas roupas.
- Mas perdi o guarda-roupa e uma estante. Saí de casa com água na cintura - disse.
Mãe de dois filhos gêmeos de quatro anos, Alaíde Maria Bezerra da Silva Santos, de 40 anos, só teve tempo de pegar os documentos.
- Na quarta-feira à noite passou o pessoal da Comissão de Defesa Civil do Recife (Codecir) avisando que a gente devia sair. Mas nunca pensei que a água chegasse nesse ponto. Não acreditei que chegasse em minha casa. Estou desesperada, só salvei os documentos - contava, chorando.
Jeane Maria da Silva, 41, foi a primeira a alertar os vizinhos. Ela acordou por volta de três da manhã para ir ao banheiro e se deparou com água na altura do joelho:
- Foi tão ligeiro, que quando saí já tinha água na cintura. A sorte foi que meu marido tem uma canoa, botou as coisas dentro do barco e salvou a gente e alguns pertences - relatou.
Célia Maria do Nascimento, 42, relutou em sair de casa, mas no início da tarde teve que deixar o imóvel com netos e filhos:
- O rio vem cheio de bicho, já matei escorpião e três cobras - dizia.
O aumento do volume do rio terminou por alagar outras regiões da cidade, inclusive no bairro da Várzea, onde estudava o filho do governador.
- Não há motivo para pânico, mas as casas que foram construídas na calha do rio, essas serão invadidas mesmo, com água até o telhado. Mas as populações dessas áreas foram devidamente avisadas - afirmava o Secretário.
No bairro de Casa Forte, no entanto, houve áreas onde o comércio fechou as portas. Foi o caso do Shopping Plaza Casa Forte, que teve o principal acesso inundado, o que obrigou o centro comercial a suspender o atendimento no final da tarde. O Shopping é o principal centro de compras da zona norte. A Codecir distribuiu uma nota informando que a situação "se encaminha para a normalidade" ao contrário "da onda de boatos nas redes sociais", que também foram contaminadas pelo clima de insegurança na cidade.
Em Recife, a última grande enchente ocorreu em 1975, quando mais de 80% da capital foi atingida pela inundação do rio Capibaribe, o que levou o governo federal na época a implantar o sistema de contenção de enchentes, que já livrou a cidade de outras tragédias equivalentes. Recife está praticamente no mesmo nível do mar e foi erguida sobre aterros no rio Capibaribe, que transbordava quando chovia em suas cabeceiras.